https://valor.globo.com/financas/coluna – 03/01/2024.
Por Cesare R. Iacovone.
O “embedded finance” é uma das tendências mais promissoras do setor financeiro. Grandes empresas já consolidaram seus negócios ancorados nesse conceito, mas ainda há muito a ser desbravado. Contudo, algumas tendências já estão se delineando de forma clara para os “players” que atuam nesse mercado.
A primeira geração de fintechs conquistou sucesso com o seguinte “playbook”: “Pegue os produtos bancários tradicionais (cartões de crédito, conta etc.) e os entregue em uma UX (“user experience”) excepcional para um público que não teria acesso a eles, ou seria mal atendido pelos canais tradicionais”. Um exemplo dentre tantos é o do Nubank, que inspirou diversas outras empresas e segue inspirando a próxima geração.
O sucesso da primeira geração gerou um aumento significativo na bancarização dos brasileiros, impulsionado também pelo pagamento do auxílio emergencial na pandemia via conta digital do Caixa Tem (segundo a Federação Brasileira de Bancos, foram bancarizados ao menos 34 milhões de brasileiros no período), e motivou o Banco Central (BC) a seguir na sua agenda de aumento de competitividade, trazendo inovações no nosso mercado que são únicas no mundo dos serviços financeiros, como o Pix e a digitalização de recebíveis.
O sucesso e as novas possibilidades da abertura regulatória vêm atraindo o interesse de outros setores da economia e gerando o fenômeno da “fintechzação”, que é a oferta de produtos e serviços financeiros por empresas não tradicionais do setor.
Franqueadores, distribuidores e sistemas de gestão financeira, dentre outras empresas, buscam capturar esse movimento para diversificação de receitas e aumento da rentabilidade. Nessa tendência, que é chamada de embedded finance (ou “finanças embarcadas”), os produtos financeiros são ofertados nos canais e nas cadeias de valores já constituídos.
Em paralelo, mesmo as próprias fintechs da “primeira geração” para continuar expandindo seus negócios frente ao aumento da competição precisam entregar uma proposta de valor completa. Essa oferta inclui contas, cartões de crédito e de débito, meios de pagamentos, investimentos e até softwares de gestão financeira. Cada parte da oferta requer expertises diversas cuja criação e manutenção são complexas com soluções desenvolvidas internamente pela própria fintech.
As empresas de infraestrutura vêm se consolidando justamente para suprir essa demanda de fintechs e de empresas tradicionais, que buscam diversificar seus negócios por meio das finanças embarcadas. São players que oferecem principalmente: 1) o uso de licenças financeiras para viabilizar os produtos; 2) a tecnologia de APIs para que as ofertas se adequem ao contexto do canal; e 3) a gestão de riscos em escala para assegurar a rentabilidade das operações.
Um exemplo é a oferta de crédito com a garantia de recebíveis de cartões, no contexto de compra e venda entre empresas. Um fornecedor de bebidas, por exemplo, ao vender para bares e restaurantes, pode estender prazos de pagamentos usando a garantia de recebíveis de vendas desses estabelecimentos.
Dessa forma, via o casamento do fluxo de caixa futuro dos bares e restaurantes com suas necessidades de compra, a oferta de crédito permite a geração de mais negócios para o fornecedor de bebidas. Este, por sua vez, pode contratar a solução pronta no mercado, e não precisa construir expertise de avaliação de riscos, gestão de garantias, execução de gravames, dentre outras funcionalidades distantes do seu core business.
Em resumo, dado que todas as empresas terão condições de se tornar fintechs, é natural que a demanda pelas empresas de infraestrutura financeira continue crescendo. O relacionamento com os serviços financeiros será contextual e fragmentado e ocorrerá em diversas cadeias de valores, de forma que as empresas de infraestrutura, junto aos seus clientes, precisarão inovar continuamente, tanto em produtos quanto em serviços.
Cesare Rollo Iacovone é CEO e fundador da fintech Destrava Aí
E-mail: imprensa@destrava.ai
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