Empresas | Valor Econômico (globo.com) – 26/11/2020.
Por Rita Azevedo — De São Paulo.
É preciso adaptar tarefas que exigem a presença física, como a contagem de estoques de uma fábrica.
Cajazeira, da PwC: usar ferramentas digitais de forma massiva foi prova de fogo — Foto: Claudio Belli/Valor.
O fim do ano costuma ser o período mais intenso de trabalho dos auditores contábeis, responsáveis por examinar e atestar a veracidade das informações prestadas pelas empresas. É nessa época que esses profissionais se debruçam sobre os registros das atividades realizadas por seus clientes no ano todo e revisam as informações financeiras que serão apresentadas ao mercado no começo do ano seguinte.
Com a pandemia, o que já era trabalho árduo ficou ainda mais difícil. E agora, em meio ao temor com o aumento de casos da covid-19, os auditores precisam adaptar tarefas que demandam a presença física, como a contagem de estoques de uma fábrica.
Para que não haja queda no nível de qualidade será necessário um planejamento maior e mais tempo, segundo o Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon). “Se no passado era comum que 50 pessoas acompanhassem um inventário físico, por exemplo, isso se tornou impossível hoje em dia. É preciso ter menos pessoas no ambiente de trabalho e uma série de protocolos que precisam ser atendidos”, diz Valdir Coscodai, diretor técnico do Ibracon.
Também é necessária uma maior coordenação com os clientes para garantir que os protocolos de segurança sejam seguidos e que todas as informações necessárias estejam disponíveis, evitando a necessidade de saídas adicionais. As empresas provavelmente devem utilizar mais recursos tecnológicos como drones, para avaliar se o que existe fisicamente é o mesmo que está registrado na contabilidade. “O que era visto como uma ferramenta sofisticada passar a ser mais comum após a pandemia”, diz Coscodai.
A crise sanitária mudou a forma de trabalho em muitas áreas, mas especialmente na dos auditores, segundo Cláudio Sertório, sócio-líder da prática de Serviços Financeiros da KPMG no Brasil. Isso porque em boa parte do tempo eles atuavam diretamente dos escritórios dos clientes, aproveitando a proximidade para acompanhar processos e checar informações de forma mais rápida. “Tradicionalmente era assim. O auditor fazia parte do convívio na empresa, ficava próximo da área contábil, ouvindo clientes e captando sinais”, diz Sertório.
Com a transferência para o ambiente virtual, garantir a qualidade de comunicação com as empresas passou a ser uma nova preocupação das firmas. “A pandemia acabou acelerando novos modelos de trabalho, levando à necessidade de um maior contato com os clientes e de uma maior frequência de reuniões”, afirma Bruce Mescher, sócio de auditoria da Deloitte Brasil.
Outra mudança importante foi na simplificação de processos, como a averiguação de documentos. “Uma das tarefas do auditor era mandar para clientes, bancos e fornecedores uma carta de confirmação de saldos, que precisava ser assinada manualmente. Fora isso, os clientes tinham que assinar manualmente um documento chamado de carta de reapresentação, afirmando que eram os responsáveis pela estrutura de controles internos. Com a pandemia, o envio e a assinatura dos documentos passaram a ser feitas de forma eletrônica”, diz Claudio Camargo, sócio de auditoria da EY.
A crise sanitária, assim como em outras áreas, também acelerou a transformação digital, segundo Fabio Cajazeira, sócio da PwC Brasil. “Tivemos que fazer um uso intensivo de ferramentas de tecnologia, como as de análise de dados, que antes eram usadas em menor escala. A grande prova de fogo foi utilizá-las de forma massiva e em um ambiente totalmente remoto”, diz ele.