Os Auditores se preparam para mudar de postura diante da distância que existe entre o serviço que eles se propõem a prestar e o que os participantes do mercado esperam deles.
Em vez de a cada escândalo empresarial eles tentarem apenas explicar que a auditoria de demonstrações financeiras não inclui busca minuciosa por fraudes e não significa atestado de boa gestão ou de sucesso da empresa no futuro, a ordem agora é estar aberto para conversar sobre novas possibilidades de serviço, que podem vir a incluir os itens acima.
“Se os participantes do mercado veem valor na auditoria de indicadores de performance operacional (KPIs), por exemplo, ou em dizermos se uma empresa tem perspectiva de sucesso ou não, vamos discutir com a profissão sobre como podemos fazer isso”, afirma Charles Krieck, sócio de auditoria da KPMG no Brasil.
Em linhas gerais, a ideia é estar aberto para assegurar a veracidade de outras informações, além do balanço, que o mercado considere como relevantes para criação de valor, como reservas de recursos minerais, carteira de pedidos e práticas sustentáveis, cita Larry Bradley, principal executivo global da área de auditoria da KPMG.
“Já está bastante claro que o que determina o valor de uma empresa não são apenas suas informações financeiras históricas, mas um número grande de medidas não financeiras”, diz.
Para que os auditores possam emitir uma opinião, dizem eles, basta que haja um modelo de comparação ou uma estrutura conceitual de referência estabelecida por um órgão independente, como o International Integrated Reporting Council (IIRC) ou o Sustainability Accounting Standards Board (Sasb).
Para melhorar a percepção do serviço tradicional de auditoria de balanço, o objetivo é investir em bases de dados e ferramentas estatísticas, para melhorar a qualidade do trabalho, e aumentar a transparência, com a defesa dos novos modelos de parecer de auditoria, que devem deixar de seguir apenas o modelo “com ou sem ressalva” que existe hoje.
Nesse novo modelo de parecer, os auditores devem revelar ao público externo quais foram os pontos mais críticos discutidos com a administração da empresa – em especial quando há necessidade de julgamento – e também apresentar uma visão mais detalhada sobre uma das premissas básicas da contabilidade, que é o da “sobrevivência da entidade”.
Não bastasse o questionamento recorrente de clientes e investidores sobre a relevância e o alcance de seu trabalho, os auditores teriam que repensar o futuro por pelo menos outros dois motivos.
Do lado financeiro, o serviço de auditoria vem perdendo relevância no faturamento total das grandes firmas do setor. A fatia ficava próxima de 48% da receita total em 2009 e caiu para perto de 43% no último ano fiscal, sem previsão de mudança de rumo no curto prazo.
Ao mesmo tempo, os próprios reguladores desse mercado têm pressionado por mudanças. Na Europa, uma reforma drástica para esse mercado agora se tornou uma questão de tempo.
No início de abril, o Parlamento Europeu aprovou uma nova legislação que exige desde rodízio obrigatório de firmas de auditoria a cada dez anos (podendo ser adiado por mais dez) como também a ampliação da lista de serviços que os auditores estarão proibidos de prestar para seus clientes, com o intuito de minimizar conflitos.
Entre os serviços vetados entram planejamento tributário, apoio em processos de autuação tributária, elaboração de declarações fiscais, aconselhamento jurídico, processamento de folha de pagamento e cálculo de impostos.
De acordo com Bradley, da KPMG, não dá para antecipar que o rodízio provocará uma queda dos honorários em toda a União Europeia, como ocorreu no Brasil, mas por outro lado não há como negar que a mudança será um desafio.
O executivo também expressou preocupação com a convivência das regras que limitam os serviços que podem ser prestados, do rodízio e a necessidade de estar há pelo menos um ano “limpo” – sem prestar nenhum trabalho crítico para a empresa – na hora da troca de auditor.
“Se uma empresa global tiver uma grande firma como auditora e outra prestando serviços tributários, ela pode ficar com apenas uma opção no mercado na hora da troca”, afirma Bradley, ao considerar que pode ser do desejo da cliente ser auditada por uma das quatro grandes do mercado.
Mas essa concentração em PwC, Deloitte, EY e KPMG é exatamente um dos pontos que a nova lei europeia pretende atacar, o que pode abrir espaço para que as firmas do segundo grupo, como BDO, Grant Thornton, RSM, Mazars, Baker Tilly, Crowe Horwath, Nexia e Moore Stephens ganhem mercado.
por Fernando Torres.
Fonte: Valor Economico
PONTO DE VISTA
Uma das primeiras matérias do VALOR que comentei aqui no site há algum tempo atrás, maio de 2013, trazia exatamente este assunto: PwC quer resposta à pergunta: ‘Onde estava o auditor?’
Um ano se passou e globalmente, a PwC faturou os seus US$ 33 Bilhões, a Deloitte os seus US$ 31 bilhões, a EY os seus US$ 25 bilhões e a KPMG os seus US$ 23 bilhões e o mesmo discurso, antes proferido por um sócio da PwC, agora está sendo renovado por um sócio da KPMG. (É só conferir a matéria do ano passado no link acima)
A verdade é única: Os participantes do mercado, os reais clientes destas empresas, esperam, apenas, que auditores externos cumpram o papel que se propõe a fazer ou seja, informar se um conjunto de demonstrações financeiras de uma determinada empresa, ou grupo econômico, reflete adequadamente a sua saúde financeira, saúde esta que assegura a sobrevivência da entidade no mercado.
Mais uma vez estamos observando os mesmos auditores justificarem falhas que poderiam inexistir se se preocupassem menos com os lucros próprios e priorizassem a qualidade do serviço prestado ao Mercado como um todo. Só assim estariam justificando os valores pagos pelas empresas que são obrigadas a manter este custo para certificar a sua saúde contábil/financeira.
Dizer que o escopo dos trabalhos de auditoria hoje realizados precisam ser estendidos ou modificados, é revelar que estão sendo, no mínimo, negligentes nos planejamentos destes trabalhos mitigando custos e reduzindo escopo em prol de um melhor resultado e as necessidades de atendimento as suas metas de faturamento global.
A atividade pede por sérias modificações há muito tempo uma vez que bons trabalhos se tornaram exceção, quando deveria ser o padrão esperado. De nada adiantará em aumentar a transparência com uma maior flexibilidade nos Pareceres ou investir em bases de dados e ferramentas estatísticas se se olvidar de uma melhor e mais adequada determinação do perfil de seus profissionais. Se podem ser um celeiro de talentos para o mercado porque não conseguem manter ou buscar os melhores no seu próprio time?
Já está mais que comprovado, frente aos escândalos da última década, que milhares de horas de treinamento em imponentes escritórios não qualificam um profissional a julgar as demonstrações financeiras dos dias atuais. As nuances do dia a dia empresarial revelam uma complexidade muito distante daquelas traçadas em livros e apostilas utilizadas nestes treinamentos, muitas vezes preparadas por quem nunca ficou do outro lado da mesa.
Infelizmente enquanto não se fizer algo só veremos estes nomes vinculados a consideráveis faturamentos ou grandes escândalos financeiros. Como simples mortais, só nos resta aguardar os próximos capítulos na esperança de que estas “novas possibilidades de serviços” não venham apenas para elevar, ainda mais, o faturamento destas empresas. Que venham para dar o valor, respeito e reconhecimento que esta classe merece.
Matéria do ano passado: PwC quer resposta à pergunta: ‘Onde estava o auditor?’
Silvio Silva
Executivo Financeiro
Diretor de novos negócios na Consult Audi
Consultor de Gestão