Por Fernando Torres | De São Paulo
Maior empresa global de auditoria, com faturamento anual de US$ 33 bilhões, a PwC está interessada em levar adiante um debate com o objetivo de pôr fim ao descasamento de expectativas entre o que o auditor assegura em seu parecer sobre balanços de empresas e o que os reguladores e o público esperam desse trabalho.
“Gostaria de ver uma resposta a essa questão de uma vez por todas, porque ela já está aí por muito tempo”, afirmou Dennis Nally, presidente-executivo global da PwC, em entrevista exclusiva ao Valor. “Esse é uma conversa relevante e adequada para o momento”, disse.
Ele se referia à pergunta “onde estava o auditor?”, que se repete a cada evento de quebra de empresa ou de fraude contábil, seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo. “Já vimos isso por vários anos, com Enron, WorldCom, Parmalat etc. E pode ter certeza de que vai ocorrer de novo. Sempre existe uma maçã podre – algum modelo de negócio que não vai funcionar, uma empresa que vai quebrar. E vão perguntar onde estavam os auditores”, disse.
Para Nally, preparadores de balanços, investidores, reguladores e auditores precisam sentar e discutir alternativas para reduzir esse descasamento entre as expectativas. “Se o público realmente deseja ter um algum tipo de auditoria que garanta 100% das informações, com risco zero de fraude, isso vai requerer mais trabalho e diferentes habilidades e competências. E existe um custo associado em prover esse tipo de auditoria. É simples assim”, afirmou.
Como exemplo, ele citou que em um serviço tradicional de checagem de práticas contábeis empregadas na elaboração de demonstrações financeiras não são executados trabalhos específicos contra fraude, o que no mercado é chamado de “auditoria forense”.
Para o executivo, se existe desejo de que os auditores produzam serviços diferentes, com distintos tipos e extensões de auditoria, essa questão deve estar na mesa.
Ele ressaltou, contudo, que estender o trabalho de auditoria fatalmente levará à discussão sobre a relação entre custo e benefício. “Companhias com bons níveis de controle e bons procedimentos de reporte vão questionar se o aumento do custo com auditores realmente vai gerar benefícios”, disse, lembrando que inúmeros balanços são divulgados anualmente e apenas uma minoria revela problemas.
Do lado dos profissionais do ramo, ele entende que cabe a tarefa de melhorar a comunicação, tornando mais compreensível o parecer divulgado junto com os balanços. “Precisamos deixar claro o que o trabalho de auditoria é. E o que ele não é.”
Em relação às discussões de reguladores pelo mundo, envolvendo sugestões como rodízio obrigatório, firmas puras de auditoria ou restrição à prestação de serviços de consultoria a clientes auditados, Nally acredita que nenhuma delas resolve o problema do descasamento de expectativas. “Todo mundo quer a bala de prata. Mas prefiro me atentar para a substância do problema. O que podemos fazer para atender a expectativa do público? Como modificamos nosso trabalho e como melhoramos a qualidade da auditoria, tendo como objetivo final evitar esse tipo de problema?”
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PONTO DE VISTA
Acredito que enquanto houver alguma dependência financeira entre AUDITOR X AUDITADO, estaremos correndo o risco de estar sujeito a pareceres cujo interesse seja exclusivamente o financeiro e não aquele que esperávamos de um Auditor na condução de seu trabalho: um posicionamento ético, integro e transparente com o grande publico usuário da informação. Não podemos tampar os olhos a esta realidade e trazer pra discussão os limites de um trabalho de auditoria, imaginando que as empresas que assinam os pareceres são realmente independentes, enquanto estas brigam em busca de novos clientes e novos recordes de faturamento.
Outra verdade a ser mencionada é que a qualidade do serviço das ditas grandes empresas de Auditoria, no Brasil, vem caindo consideravelmente ao longo dos últimos anos se mantendo no Mercado, ou seja pela obrigatoriedade imposta por uma matriz estrangeira ou pelo glamour de um nome construído ao longo de décadas passadas.
Muito tem que se pensar e agir sobre o trabalho dos Auditores para que este tenha novamente a confiança, respeito e valorização que este serviço merece.
Silvio Silva
Executivo Financeiro
Diretor de novos negócios na Consult Audi
Consultor de Gestão