Por Vicky Bloch – Valor – 06/11/2014 às 05h00.
Nem mesmo os líderes mais queridos e admirados são unânimes.
Frequentemente, eles se deparam com situações em que parte significativa de um grupo pode estar contra seu posicionamento. E isso é positivo e saudável, diga-se de passagem, porque faz a organização crescer.
O que diferencia as grandes lideranças das demais, no entanto, é a sua capacidade de administrar bem os processos decisórios, uma das competências mais importantes da gestão. Como disse o ex-presidente americano Abraham Lincoln, “ninguém é suficientemente competente para governar outra pessoa sem o seu consentimento”.
Agora, como engajar as pessoas que foram sumariamente contrárias à decisão da maioria? Como trazer para perto um grupo “adversário” e fazê-lo compreender e aceitar seu raciocínio, de maneira que os integrantes desse grupo continuem motivados e, especialmente, respeitando-o como líder?
O fato é que, mesmo que não haja um consenso, a liderança precisa se abrir para o diálogo e mostrar ao time que, muitas vezes, é necessário abrir mão do individual em prol da missão organizacional e do bem coletivo. Fácil? Nem um pouco.
É natural do ser humano que ele dê prioridade seus próprios interesses. Mesmo que 80% dos membros de uma diretoria, por exemplo, sejam favoráveis a uma determinada decisão, não são desprezíveis os 20% que se apresentaram de forma opositiva. O trabalho do líder deve ser intenso para conseguir envolver esses 20% e trazê-los para o jogo.
Se esse grupo não entender que a decisão foi tomada por meio de um processo democrático e transparente, mesmo sendo minoria, pode causar um grande estrago ao resultado da empresa – se não partir para o boicote, algo que observamos com frequência no dia a dia organizacional, pode, no mínimo, fazer corpo mole e atrapalhar um bocado.
Estabelecer alianças sólidas é um desafio e tanto no ambiente corporativo. Para preservá-las e manter a confiança do time, no entanto, é imprescindível falar a verdade. Sempre que posso humildemente dar um conselho aos executivos com quem cruzo em minha jornada profissional, digo: jamais minta para a sua equipe. Envolvê-la é sempre a melhor saída.
Imaginem, então, situações com uma divergência de opiniões muito grande. Uma votação no conselho de administração em que a decisão sobre um projeto estratégico de grande complexidade se deu por uma margem de 51% a favor contra 49%, por exemplo.
Também é comum enfrentarmos confronto em situações de fusão e aquisição, quando a organização compradora não envolve o outro grupo no processo de reestruturação, tornando o ambiente destrutivo e com grande chance de dar errado.
Como é possível continuar tocando a gestão do negócio diante de uma grande oposição? Sendo transparente, dando acesso às informações, eliminando questões políticas e atuando em prol da sustentabilidade e da competitividade do negócio. As pessoas precisam ser respeitadas, ouvidas, inseridas no processo. Sem surpresas.
Dito tudo isso na área que me compete, que é a empresarial e de gestão de pessoas, agora transporto essa discussão para o campo político. O que o governo brasileiro atual, depois de uma reeleição tão apertada, irá fazer com a parcela que não ficou satisfeita com o resultado das urnas? Irá excluí-la ou chamá-la para o engajamento?
Que a nossa liderança política seja capaz de administrar bem seus processos decisórios e envolver a todos em prol de algo maior, com transparência, verdade e inclusão. Precisamos de uma liderança que mostre confiança e esteja, definitivamente, próxima de todos, mesmo daqueles que pensam diferente. Para que ao final, assim como Lincoln, tenha mais seguidores do que inimigos.
Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados