Para Gavin, do Barclays, passou o tempo em que se investia em emergentes porque se esperava crescimento robusto deles.
Uma verdade incômoda está se fazendo sentir entre todos os investidores focados nos mercados emergentes: sua história de crescimento chegou ao fim.
Isso não significa dizer que as economias emergentes deixarão de crescer. Nem mesmo que ativos de mercados emergentes deixarão de proporcionar retornos atraentes. Mas ficaram no passado os dias em que “ativos de mercados emergentes” era um termo capaz de designar uma única classe de ativos. Mais do que isso, como diz David Lubin, diretor de economia para mercados emergentes do Citigroup, o próprio “mito fundador” dos mercados emergentes já não se sustenta.
“A história dos emergentes baseia-se em crescimento rápido, puxado por exportações, e que proporciona grandes superávits em conta corrente, o que leva ao acúmulo de reservas cambiais e à expansão do crédito doméstico”, diz ele. “Cada elemento dessa história deixou de ser verdadeiro.”
Lubin diz que os recentes protestos de rua na Turquia e no Brasil mostram que o crescimento nessas economias não é mais capaz de sustentar o ritmo das aspirações populares que foram fomentadas durante os períodos de rápido crescimento antes e depois da crise de 2008-09. Para ele, o fim da história de crescimento dos emergentes pode ser lida no desempenho de suas ações.
“Os mercados de ações muitas vezes dão sinais muito mais verdadeiros do que outros mercados”, diz ele. “O mau desempenho dessas ações nos últimos 18 meses mostra que eles capturaram a ideia de uma mudança na economia mundial.”
De fato, desde o início de 2002 até seu pico no fim de 2007, as ações dos emergentes (medidas pelo índice MSCI Emerging Markets) valorizaram 320%, ao passo que as ações em todo o mundo (segundo o índice MSCI World) subiram 67%. A partir de então, até seu pico pós-crise, em abril de 2011, as ações de emergentes perderam 10% de seu valor, enquanto as ações de empresas de todo o mundo perderam quase 20%.
Porém, apesar das enxurradas de liquidez criadas pelo afrouxamento quantitativo nos EUA e em outros países, essas ações perderam outros 20% de seu valor, ao passo que as ações do mundo inteiro avançaram cerca de 12%.
Michael Gavin, diretor de estratégia de mercados emergentes no Barclays, vê poucas chances de melhoria num futuro previsível. “Poucos anos atrás, alguém investiria em mercados emergentes porque esperaria crescimento deles”, diz ele.
Um exemplo de como as coisas mudaram é o Brasil, avalia Gavin.
Segundo o governo brasileiro, os investidores deveriam acreditar que os grandes avanços de prosperidade no país ao longo dos últimos 15 anos foram resultado de uma transformação política que criou um ambiente previsível de inflação baixa, boa governança e crescimento. As autoridades econômicas merecem a sua quota de crédito, porém muitos analistas agora dizem que o crescimento do Brasil foi causado principalmente pelo superciclo das commodities, dinheiro barato antes da crise e mais dinheiro barato depois dela – circunstâncias improváveis de se repetirem. Mais recentemente, a política econômica tem sido muito menos amistosa ao investidor.
“As autoridades brasileiras têm uma visão dirigista do desenvolvimento. Elas acham ser possível controlar os preços influindo nas tarifas de energia elétrica e gerar crescimento influindo nas decisões do banco central. Vale apenas comprar ações de companhias brasileiras aos preços atuais? Talvez, mas não como reflexo de uma história de crescimento. Talvez como uma história de reversão de políticas, se o investidor acredita que isso vai acontecer”, diz Gavin.
Até mesmo os otimistas incorrigíveis em relação aos mercados emergentes não conseguem justificar sua fé no bloco como um todo. “Haverá mercados que decepcionarão”, diz Julie Dickson, gerente de produtos relacionados com ações no Ashmore Group, empresa de investimentos focada em emergentes. “É hora de começar a agir de maneira bem mais inteligente.”
Uma maneira mais inteligente, é claro, significa investir de maneira bem mais seletiva. “Somos ativos selecionadores de ações”, diz Dickson. “Sem dúvida, há algumas joias no mercado que vão surpreender contra um pano de fundo difícil.”
Ela diz que “deslocamentos no mercado” nos últimos meses produziram retornos decepcionantes para os gestores de ativos porque as empresas com bom desempenho produziram resultados tão maus, em termos de preços das ações, quanto as empresas com desempenho insatisfatório. Mas isso, diz ela, tem o efeito de ampliar o leque de apreciação, “de modo que você pode distinguir as realmente baratas das verdadeiramente caras”.
Ela privilegia “small caps” emergentes e fronteiriças que geram a maior parte de seus ganhos em seus próprios mercados a companhias de grande capitalização mais expostas às condições mundiais.
Segundo ela, a Ashmore tem investido em ações de empresas que atuam em mercados de consumo de bens supérfluos, de varejistas a fabricantes de automóveis, e em um leque de ações de empresas de tecnologia – de fabricantes de celulares à área de robótica. Ela está evitando mercados que estão muito caros, como as Filipinas, mas tem encontrado oportunidades em outros lugares na Ásia, no Peru e no México.
Apesar de recomendar seleção criteriosa, Dickson diz acreditar em uma recuperação mais ampla dos emergentes, “não só porque trabalhamos nesse segmento, mas porque há muito mais coisas acontecendo a favor deles do que contra eles”. Essa é uma posição cada vez mais solitária.
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