23/07/2013 às 00h00 – Valor
A ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária deixa poucas dúvidas quanto a um novo aumento de juros e sua magnitude. Para o Banco Central, a inflação continua alta e disseminada, e novas doses de juros são necessárias, mesmo com os sinais evidentes de fraqueza da economia e de um arrefecimento no ritmo de expansão do crédito. Mas as preocupações do Banco Central incorporaram a perda de dinamismo das atividades e o impacto da desvalorização cambial sobre a inflação, até então considerada residual ou de baixa intensidade – as duas novidades da ata.
O Banco Central continua acreditando que a economia crescerá a um ritmo “mais intenso” neste e no próximo ano, o que é também consenso entre os analistas, que divergem, porém, quanto à intensidade desse crescimento. Os fatores que podem nutrir a inflação ou impedir que ela caia com a rapidez necessária também permanecem no horizonte – crescimento do consumo das famílias, baixo nível de desemprego e aumentos salariais que podem se revelar incompatíveis com a produtividade. A expansão do crédito para pessoas físicas e empresas e o próximo início de um programa de concessões de serviços públicos abrem a perspectiva de uma ampliação dos investimentos.
Mas esse cenário ganhou na mais recente ata um curioso contraponto. “O Comitê nota que a velocidade de materialização desses ganhos esperados pode ser contida caso não ocorra reversão tempestiva do declínio que ora se registra na confiança de firmas e famílias”. A perda de confiança é um dado estatístico, o único levado em consideração pelo BC, mas tem origens econômicas e políticas. A política econômica como um todo tem se revelado ineficaz para debelar esta desconfiança ou é, ela própria, sua causa. A “reversão tempestiva” do declínio da confiança mencionada torna-se então algo enigmático. O governo precisaria dar um choque de ânimo na economia e essa não é uma tarefa do BC, empenhado em um ciclo de aperto monetário que considera indispensável para a melhora das condições econômicas.
O apelo a uma ação do restante do governo pode ter se endereçado à política fiscal, ainda expansionista, segundo a ata. Ela revela que agora considera para seus prognósticos o superávit primário estrutural, cuja magnitude não revela, da mesma forma que, por dever de ofício, considerava a obtenção do superávit primário de 3,1% do PIB (R$ 155 bilhões) nas atas anteriores. Nas consultas sob o artigo IV com o Fundo Monetário Internacional, em 2012, o superávit estrutural projetado para 2013 variava de 2,7% a 3,2%, números que coincidem, pela ordem, com a meta atual de austeridade do governo e com a meta que ele abandonou. Como as condições da economia mudaram desde então, o resultado a atingir é um mistério.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, em entrevista a “O Estado de S. Paulo” (21 de julho), com todas as cautelas de praxe, inclusive o aviso de que o assunto não é da alçada da autoridade monetária, incentivou o governo a apresentar o ajuste fiscal que pretende fazer e os meios para atingi-lo. “O importante é que o governo defina. E quando definir, forneça um detalhamento à sociedade de como isso será alcançado”, disse.
Houve uma mudança de posição do BC a respeito da influência sobre os preços da recente desvalorização cambial. Em declarações públicas anteriores, diretores do BC repetiram que o efeito de movimentos cambiais tendia a ser de pequena magnitude e que seu repasse tinha se atenuado bastante ao longo do tempo. Mas a recente ata criou um parágrafo para a ameaça. Depois de apontar que houve “natural e esperada correção de preços relativos”, o BC aponta que a “depreciação cambial constitui fonte de pressão inflacionária em prazos mais curtos” e que seus efeitos secundários podem ser limitados pela “adequada condução da política monetária”.
No cenário de referência usado como base para a elevação de 0,5 ponto percentual da taxa Selic, o BC utilizou R$ 2,25 por dólar, uma desvalorização de 11,1%. Na entrevista, porém, Tombini revelou uma possibilidade e um temor. Uma desvalorização de 20% (ou dólar a R$ 2,40) elevaria o índice de preços em 1 ponto percentual o que, em suas palavras, “é um caminhão de inflação”. Tanto a ata quanto o presidente do BC sugerem que os juros poderão subir além do previsto se a taxa de câmbio disparar.
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