O Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) revisou de 2,9% para 2,3% a previsão para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013. Outros indicadores também foram revistos desde a última reunião do grupo, em maio, diante de uma perspectiva menos benigna para a economia no segundo semestre. A visão é detalhada em relatório, obtido com exclusividade pelo Valor.
Na avaliação do grupo, formado por mais de vinte chefes de departamentos econômicos de instituições financeiras, o baixo crescimento global aliado à incerteza do quadro doméstico decorrente da alta da inflação, do esgotamento do canal de crédito sobre o consumo e da piora do quadro fiscal criaram cenário adverso ao investimento no país. Com isso, o viés de baixa nas expectativas de crescimento foi reforçado. Para o grupo, os protestos de junho podem ter efeito negativo importante sobre os próximos dados de confiança de famílias e empresários.
Alguns membros do comitê identificam risco até mesmo de retração no segundo semestre. Outra parte avalia que o mercado de crédito, a despeito da desaceleração, se mantém aquecido, e que o mercado de trabalho ainda se sustenta. A visão de que o investimento pudesse ser o grande motor da economia perde força, diante da avaliação de que o investimento se volta mais para reposição ou aperfeiçoamento no processo de produção do que para a ampliação da capacidade instalada.
Luiz Fernando Figueiredo, diretor da Anbima responsável pelo comitê, diz que o sentimento do grupo é de certa frustração. “Ninguém gosta de ver os números com uma cara ruim. Há certa frustração de que, infelizmente, não estamos no processo de aceleração de atividade como gostaríamos”, afirma. “Por outro lado, embora dados recentes sejam pouco melhores, há receio com relação à inflação muito grande”.
Pela primeira vez no ano, o comitê espera inflação acima dos 5,84% registrados em 2012, em razão não só da pressão vinda do câmbio como da percepção de que os serviços não dão sinais de alívio. A mediana das projeções do grupo aponta para uma inflação medida pelo IPCA de 5,9% em dezembro, a despeito de um ciclo de aperto monetário mais forte e da expectativa de que a economia cresça menos. “A inflação projetada subiu, claramente como um reflexo das nossas projeções para o câmbio, que saíram de R$ 2,05 para R$ 2,20”, diz Marcelo Carvalho, presidente do comitê e também economista-chefe do BNP Paribas.
Embora a mediana aponte o dólar em R$ 2,20 no fim do ano, 32% preveem a moeda igual ou acima de R$ 2,30 em dezembro. A previsão mais alta chega a R$ 2,45. “A mediana aqui talvez não reflita inteiramente o tom da discussão”, diz Carvalho. “Isso indica que esse novo patamar ainda não está claramente definido”. Para o grupo, o contexto global – com impacto dos sinais mais recentes do Federal Reserve e da desaceleração chinesa sobre os preços das commodities – foi preponderante na revisão do câmbio. Já para a Selic, a mediana das previsões subiu de 8,5% para 9,25% em dezembro. O comitê se reúne sempre às sextas-feiras que antecedem a reunião do Copom. As projeções sempre foram públicas, mas, a partir deste mês, serão acompanhadas de relatório. (FL)
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