Por Sandro Gatto,
Embora este assunto pareça estar um pouco saturado, vale a pena investir um pouco mais de tempo para tentar entender porque ele continua incomodando os dois lados da mesa: CLIENTES e FORNECEDORES. Sim. Ambos os lados não podem e não devem ficar satisfeitos com os mesmo tipos de dificuldades que já foram apresentadas e apontadas há anos atrás. Não precisamos ir muito longe: basta fazer uma breve pesquisa pelo assunto e logo constataremos a afirmação acima. Os problemas apontados pelas empresas há vários anos atrás insistem em se repetir até hoje. Por que não podemos fazer uma reflexão e tentar, de fato, minimizar essas situações?
Sabemos que o assunto não é simples. Envolve muitos fatores complexos. Trabalhar em cima da estrutura de operações de uma empresa não é tarefa para qualquer um. E um ponto que agrava ainda mais a situação é o fato das partes nunca entenderem a plena relevância de suas atribuições no projeto. Em uma oportunidade recente, ouvi a seguinte colocação de um amigo: “A implantação do ERP na minha empresa só evoluiu depois que nossa equipe se envolveu ativamente no projeto”. Fiquei admirado com a surpresa dele nessa constatação. Será que ele imaginou que algum fornecedor conseguiria obter êxito neste tipo de projeto sem a participação conjunta de sua equipe? Será que algum fornecedor, sozinho, poderia entender completamente a estrutura de funcionamento de uma organização que atua no mercado há mais de vinte anos? E ainda conseguiria melhorar o nível de gestão da empresa sem o acompanhamento e participação efetiva do quadro funcional destacado para o trabalho? Felizmente consegui confortar meu amigo dizendo que o envolvimento da equipe dele seria normal e necessário nesse caso. E ressaltei que essa seria a única maneira de superar a primeira de muitas barreiras impostas a este tipo de projeto. Consegui desmistificar para ele uma mensagem muito comum existente nos projetos de TI das pequenas e médias e empresas do país: que o fornecedor contratado já está sendo bem remunerado e que a responsabilidade pelo sucesso do projeto está exclusivamente nas suas mãos.
Sabemos que a mentalidade acima é fato e que não podemos deixar de contorná-la. Mas se esse fosse o único obstáculo, a sensível evolução percebida no nível de educação dos empresários brasileiros conseguiria, aos poucos, superar esse imenso desafio. Infelizmente ainda não é somente isso que atrapalha o desenvolvimento dos projetos. Se por um lado os empresários estabelecidos procuram se aprimorar, por outro o ímpeto empreendedor brasileiro traz a tona a realidade de empresas que iniciam sua vida sem o mínimo de planejamento. Aquelas que conseguem sobreviver num mercado extremamente competitivo, acabam por deparar-se com diversas dificuldades gerenciais e operacionais e necessariamente procuram por fornecedores de Sistemas de Gestão para tentar apoiá-las nessas questões.
Nesse momento, observamos uma série de erros que acabam impactando o projeto que teria como principal objetivo contribuir com a evolução da gestão do negócio:
– Clientes que não investem o mínimo de tempo para arquitetar e documentar a demanda real, assim como suas principais necessidades e prioridades na hora de convocar os possíveis fornecedores
– Fornecedores que também não se preocupam em diagnosticar corretamente a demanda e acabam por apresentar propostas não aderentes à realidade dos clientes
– Clientes que também não investem o tempo necessário na avaliação dos fornecedores, optando muitas vezes por soluções mais acessíveis financeiramente e que se adequam ao seu “imaginário” orçamento no momento (aqui temos um dos principais erros cometidos)
– Fornecedores que tentam se habilitar a desenvolver qualquer tipo de projeto, sem o mínimo de conhecimento específico, achando que podem melhorar a gestão de uma empresa utilizando arcaicas metodologias de implantação de softwares
– Clientes que não se envolvem diretamente no projeto de implementação, chegando a negligenciar pontos importantes como a fase de treinamento e capacitação e também não cumprindo sua parte na matriz de responsabilidades (quando esta existe)
– Fornecedores prepotentes que acreditam na simplicidade de se implantar um projeto que envolve toda a gestão de uma organização estabelecida há décadas e que também não levam em conta o perfil comportamental e a capacitação do quadro profissional do cliente, tratando todos os projetos da mesma forma.
Reparem que sempre existem falhas dos dois lados. Mas uma questão se faz necessária aqui: Se todos já estamos cansados de saber sobre esse cenário, por que não conseguimos inverter a lógica e criar diferenciais que possam contornar esses obstáculos? Será que vamos conviver com a velha máxima “Todo projeto de implantação de ERP tem problemas” por quantos anos?
Segundo dados do Gartner, temos no Brasil (apenas no mercado de pequenas e médias empresas) cerca de 500.000 companhias. Nesse universo, cerca de 10% apenas possuem um sistema integrado de gestão efetivo. Esses dados apresentam, no mínimo, uma grande oportunidade…
Será que ninguém ou nenhuma empresa vai conseguir navegar até o OCEANO AZUL? Porque a rota, como podemos ver acima, todos já conhecemos…