Por Gustavo Brigatto | De São Paulo –
O mundo da tecnologia já testemunhou brigas históricas entre grandes empresas para ver quem seria a principal referência em uma área. Basta lembrar da batalha entre a Microsoft e a Netscape pelo segmento dos navegadores para a internet (vencida pela Microsoft) ou, mais recentemente, entre o Google e o Yahoo na área de pesquisas na web (na qual o Google levou a melhor).
Às vezes, porém, as disputas se encerram por fatores externos aos rivais que estão em campo. É o caso da guerra dos chips, travada entre as fabricantes americanas Intel e AMD. A disputa, que se estendeu pela década de 90 e a primeira metade dos anos 2000, foi esvaziada por uma mudança no comportamento dos consumidores.
O centro da disputa era a rapidez com que os processadores faziam cálculos matemáticos. Isso era importante nos primeiros tempos. Dependendo do software usado – como os jogos, que se sofisticaram rapidamente -, o computador ficava lento ou simplesmente travava. Era a hora de trocar o equipamento por uma máquina nova, com chip mais rápido. A Intel sempre foi muito maior que a AMD, mas a briga entre ambas movimentava o setor.
Às vezes, as novas gerações de produtos eram lançadas com dias de diferença, mas 24 horas faziam diferença, mesmo que fosse apenas uma vitória do marketing. Trimestre a trimestre, jornalistas e consumidores de todo o mundo se apressavam para saber das novidades das companhias e ver quem tinha roubado espaço de quem.
A velocidade dos componentes era o termômetro da capacidade de inovação das fabricantes e o chamariz de vendas. Chips mais rápidos representavam a capacidade de um PC fazer tarefas simultâneas e trabalhar com programas complexos, como os softwares de edição de imagem e os de engenharia. O que estava debaixo do capô era o que mais importava.
Esse cenário mudou radicalmente. Com o avanço da tecnologia, a maioria dos chips tornou-se capaz de dar conta das tarefas mais básicas, deixando a corrida pelo processador mais veloz restrita a consumidores que usam recursos muito sofisticados. Para o usuário comum, fatores como design, duração de bateria, peso do equipamento e, claro, preço, passaram a ser mais determinantes na hora de decidir qual computador comprar, principalmente no caso dos portáteis. O foco mudou dos bits e bytes para o que se faz com a tecnologia.
Hoje, é muito difícil ver um fabricante destacando apenas características técnicas de um celular, PC ou tablet. O discurso enfatiza a praticidade de uso e os benefícios do produto para o usuário. Há algumas semanas, no lançamento do smartphone G2, a LG não fez praticamente qualquer referência às especificações técnicas do aparelho. O que o software do aparelho permite que o consumidor faça foi o mote do anúncio. Mesma estratégia foi adotada pela Motorola – que agora opera como uma empresa do Google – para seu recém-lançado Moto X: o foco são aspectos como comandos de voz e design.
O novo campo de batalha transformou profundamente o cenário competitivo da tecnologia. Companhias estabelecidas como as japonesas Sony e Panasonic viram sua hegemonia ser desbancada pelos concorrentes coreanos Samsung e LG. A líder do mercado de telefones celulares, a finlandesa Nokia, também perdeu espaço.
Para os próximos anos, a tendência é que novas mudanças aconteçam. O uso de sistemas de análise de dados em tempo real dará oportunidades para o surgimento de novos modelos de negócios e criará oportunidades, tanto para companhias estabelecidas quanto para iniciantes. As disputas pela liderança continuarão, mas o que está debaixo do capô tende a ser cada vez menos importante.
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