https://valor.globo.com/financas/coluna – 07/11/2025
Por Cacá Takahashi (*)
Apoiado em regulação sólida e instrumentos financeiros avançados, Brasil tem estrutura para dar escala à agenda climática e para ser referência internacional
Às vésperas da COP30, um dos temas que mais preocupam formuladores de políticas e agentes do mercado é quanto custará a transição para uma economia de baixo carbono. Os valores divergem a depender da fonte, mas todos têm algo em comum: são quantias colossais, que não serão alcançadas apenas com recursos públicos.
Na última COP, as nações afirmaram a necessidade de US$ 1,3 trilhão anuais, até 2035, para ações climáticas em países em desenvolvimento. Outros cálculos duplicam essa cifra – como o Ihleg (Grupo Independente de Especialistas de Alto Nível em Financiamento Climático), que prevê a demanda de US$ 2,7 trilhões anuais até 2030 para esses países (exceto China) alcançarem metas ambientais.
Independentemente de qual reflita melhor a necessidade real, o setor privado – e, por consequência, o mercado de capitais – tem papel indispensável para fechar a conta. O mercado é o elo que viabiliza fluxos financeiros para o desenvolvimento da economia real, inclusive na questão climática.
Iniciativas do setor público, por meio de organismos multilaterais e bancos de desenvolvimento como BID e BNDES e o Tesouro Nacional, vêm desenvolvendo soluções de proteção cambial e mecanismos de alocação de capital concessional, objetivando alavancar recursos do setor privado.
Para o mercado brasileiro, em particular, essa é uma oportunidade histórica, pois marca o encontro entre alta demanda por capital e condições adequadas para recebê-lo. De um lado, temos a relevância do nosso país como detentor de ativos ambientais. Com cerca de 500 milhões de hectares de florestas, o Brasil é uma potência em biodiversidade e soluções baseadas na natureza – que exigirão recursos para preservação e para transformação em iniciativas produtivas de baixo carbono.
Do outro, está a maturidade do mercado de capitais brasileiro. Apoiado em regulação sólida e instrumentos financeiros avançados, temos estrutura para dar escala à agenda climática e para sermos referência internacional.
Parte desse amadurecimento vem da evolução normativa. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) implementou uma agenda de finanças sustentáveis inovadora e alinhada a padrões internacionais, ao passo que a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) trouxe fundos e títulos sustentáveis para a autorregulação, aumentando transparência e padronização. Essa base confere segurança jurídica e atratividade a emissores e investidores.
A oferta de instrumentos acompanha esse movimento. Debêntures de infraestrutura são frequentemente rotuladas como verdes. Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs) ampliam a capacidade de financiamento em setores variados, enquanto fundos imobiliários e Fiagros oferecem alternativas para os mercados urbano e agrícola, com impacto em logística, armazenagem e eficiência energética. Juntos, esses mecanismos podem financiar a transição em setores estratégicos, como energia, saneamento, logística e agronegócio, dentre outros.
O intenso agravamento das mudanças climáticas aumenta o senso de urgência em transformar esse potencial em criação de valor. As bases para essa virada de chave estão dadas: nossa indústria de investimentos tem as condições certas para potencializar a agenda climática como motor de expansão e desenvolvimento.
É imprescindível, também, reconhecer os desafios. A consolidação da agenda ambiental, social e de governança (ESG) demanda ampliação de dados confiáveis, padronização de métricas e capacitação técnica dos profissionais para análise desses critérios em investimentos. São questões complexas, mas que já avançam em conjunto com o próprio amadurecimento do mercado.
Dois marcos contribuem para acelerar todo esse movimento – ambos no Brasil, em novembro. O PRI In Person, que reuniu investidores globais em São Paulo, serviu para mostrar a maturidade do nosso mercado ao mundo. A COP30, por sua vez, terá Belém como palco para a implementação da agenda climática e para impulsionar a internacionalização do mercado brasileiro.
A transição abre espaço para lideranças capazes de articular compromissos em escala. O Brasil tem tudo para ser um relevante protagonista e, ainda, usar as finanças sustentáveis como pilar de desenvolvimento socioeconômico. Cabe ao nosso mercado de capitais agir com celeridade e fazer do setor um dos motores da transição climática global.
(*) Cacá Takahashi é diretor da Anbima e coordenador da Rede Anbima de Sustentabilidade
E-mail: diretoria@anbima.com.br
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