Com falta de chuvas, preço do insumo bate recorde histórico no mercado livre e pressiona indústrias a buscar redução no consumo. Além da economia, corte garante competitividade
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Grandes empresas reforçam investimentos para reduzir o consumo de energia na produção, se antecipando ao cenário de manutenção dos preços altos do insumo já desenhado para este ano. O baixo nível dos reservatórios de água das usinasHidrelétricas derrubou a esperança de que o país não precisasse intensificar o uso da geração mais cara das usinas térmicas. A elevação para R$ 822,83 por megawatt/hora na sexta-feira do Preço de Liquidação das Diferenças, referência paras os consumidores que compram no mercado livre de energia, aquele em que o fornecedor é escolhido pelo comprador, confirma a despesa maior. O preço em janeiro era de quase metade desse valor.
A tarifa média da energia consumida na indústria varia de R$ 350 a R$ 450 por MWh, dependendo da modulação. A opção da energia solar tem custado R$ 250 por MWh e a eólica (obtida a partir da força dos ventos) está sendo adquirida por R$ 107 por MWh. As empresas terão de pagar em 2014 uma conta no mínimo 10% mais cara, na comparação com as faturas recebidas no ano passado, avalia Eduardo Nery, diretor da Energy Choice, empresa de consultoria na área de energia. É nesse ambiente que cresce o campo para aportes em medidas de consumo mais racional nas fábricas.
O grupo siderúrgico Gerdau, de Porto Alegre, apelou à imaginação e criatividade de seus empregados, colhendo mais de 1,3 mil sugestões para ampliar a eficiência de equipamentos e otimizar processos fabris. Empresas como a Embaré, fabricante de produtos lácteos e doces, e a ArcelorMittal BioFlorestas, braço do maior produtor de aço do mundo, aproveitam matéria-prima e gases industriais com a mesma finalidade, além de obterem ganhos ambientais desses projetos.
“Qualquer economia significa economizar nos custos da indústria. Se houver rigor e um trabalho benfeito na busca de eficiência, pode-se reduzir o consumo entre 4% e 8%, no atual estágio de desenvolvimento tecnológico do parque industrial brasileiro”, afirma Eduardo Nery. O consultor observa que o país tem condições de produzir energia solar a R$ 200 por MWh e que shopping centers podem economizar até um terço dos gastos ao usarem painéis solares.
avanços Com um projeto ambicioso para tornar sustentável toda a produção da fábrica de Lagoa da Prata, no Centro-Oeste de Minas, a Embaré está concluindo investimentos de R$ 16 milhões. A empresa vai ampliar em 300% a produção de biogás que está sendo usado para gerar energia elétrica e oferece biofertilizantes como subprodutos do processo. Os efluentes que saem do sistema de evaporação e limpeza da produção de leite em pó, leite UHT e doces são tratados e destinados à geração elétrica. Outras duas iniciativas consistem na troca do óleo diesel das caldeiras por lenha de eucalipto, combustível limpo, e na instalação de um sistema pesado de no break (acionado quando há interrupção da energia).
A expectativa do diretor-presidente da Embaré, Hamilton Antunes, é de que o projeto global de eficiência energética vá permitir economia da ordem de 60% dos gastos atuais. “Custo é algo que exige atenção sempre. A empresa ganha com a redução de insumos caros, assim como o Meio Ambiente é preservado e o consumidor, que dá muito valor a isso”, afirma. O projeto é conduzido em paralelo à troca de iluminação convencional por LED em todas as novas edificações da companhia.
Geração Em Martinho Campos, município também localizado no Centro-Oeste de Minas, a ArcelorMittal BioFlorestas está na etapa final das obras civis para instalação de um sistema de turbina a gás que aproveitará a fumaça da queima de carvão vegetal para geração de energia elétrica. A tecnologia trazida da Itália, ainda em caráter experimental, promete beneficiar as usinas do grupo siderúrgico com a geração de até 30 MW, potencial elétrico dos gases da carbonização, informou Maurício Bicalho de Melo, diretor geral da ArcelorMittal BioFlorestas.
A companhia tem, ao todo, 258 fornos e mais de 100 mil hectares plantados com eucalipto no estado. “Quanto mais cara se torna a energia, mais vamos buscar independência. Se aproveitarmos todo o potencial estimado, teremos energia, inclusive, para vender ao sistema nacional interligado”, afirma Maurício Bicalho.
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