https://www.estadao.com.br/economia/lentes-de-decisao – 26/06/2025
Opinião: por Claudia Miranda Gonçalves
Por Andréa Nery
Temos falado muito sobre propósito. Há quem o trate como uma resposta mágica para a felicidade, ou como uma frase inspiradora que enfeita paredes de escritórios. Mas quanto mais mergulho nesse tema, mais entendo que propósito não é algo que se encontra, é algo que se vive — ou se perde de vista.
Propósito é fluxo. É energia que pulsa quando nossas ações estão alinhadas com o que tem valor para nós. É uma força vital que atravessa nossos dias, nos ajuda a enfrentar adversidades e dá sentido até mesmo ao que é difícil de nomear. Mas o que acontece quando esse fluxo se interrompe — especialmente nas lideranças, que carregam a responsabilidade de sustentar esse campo?
No corpo de uma organização — tão vivo quanto qualquer sistema biológico — o propósito é como um coração que precisa pulsar com ritmo e coerência para sustentar a vida do todo. Quando se fala em “energia vital” da empresa, estamos falando disso: da congruência entre pensar, sentir e agir. Das conexões que nutrem os relacionamentos, das decisões tomadas com consciência, das intenções que atravessam os processos. O propósito não é apenas um norte — ele é o pulso organizacional, vibrando em cada nível e ação.
Quando o propósito se manifesta com congruência, essa energia sustenta:
- Clareza nos pensamentos;
- Motivação genuína nos sentimentos;
- Consistência nas ações.
Se esse pulso enfraquece — por metas impostas de fora, por desmotivação crônica, por ações desconectadas — o sistema entra em colapso. As pessoas se afastam, os projetos perdem sentido, e a vitalidade se esvai.
Mas o propósito, quando vivo, é também antídoto contra o caos. Ele nos dá chão em meio à incerteza. Ele nos mostra o porquê mesmo quando o “como” parece confuso. E mais: ele nos devolve o poder de escolha.
Nos meus próprios caminhos, percebi que estar em sintonia com meu propósito não significava seguir um plano fixo ou viver só momentos bons. Pelo contrário: foi nas dificuldades que mais precisei me perguntar “o que isso significa para mim?”. E foi aí que o propósito se mostrou não como resposta, mas como direção.
Essa consciência — de que a conexão com algo maior nos energiza e orienta — é o que pode transformar a experiência de trabalhar, liderar, decidir e viver.
E como saber se o propósito está mesmo vivo, pulsando?
Há três pontos que gosto de observar:
- Pensar: os objetivos fazem sentido ou foram simplesmente herdados ou impostos?
- Sentir: há motivação genuína ou estamos operando no automático?
- Agir: estamos expressando nossas capacidades em harmonia com o todo, ou repetindo tarefas sem direção?
Quando essas três dimensões se alinham, o propósito se manifesta de forma vigorosa — e a resiliência deixa de ser apenas resistência e se torna transformação.
Não se trata de encontrar “o propósito da sua vida” como se ele fosse único, fixo e eterno. Trata-se de escolher, a cada dia, aquilo que traz sentido. De perceber quando estamos em fluxo, e de ajustar o curso quando algo nos drena ou nos desconecta.
Na vida pessoal ou nas organizações, o propósito é uma construção viva, relacional, e profundamente humana. É ele que transforma a ação mecânica em contribuição real, e que sustenta nossa capacidade de criar, conectar e evoluir — mesmo quando tudo à volta parece desmoronar.
Propósito não é descoberta estática nem conforto passivo: é energia em movimento. Nas boas e nas adversidades, é o sopro que nos mantém íntegros, conectados e corajosos. Especialmente para as lideranças, onde o cansaço moral pode ameaçar tudo o que estão construindo.
Viver com propósito não anestesia os desafios — mas nos dá energia para enfrentá-los e transformá-los.
E você? Consegue sentir o pulso do seu propósito hoje? O pulso do seu propósito ainda está vibrando na vida e no trabalho? Onde você sente essa energia — ou onde ela pode estar se esvaindo?