Conceitos têm evoluído rapidamente no Brasil, moldando o futuro do mercado financeiro e criando um ecossistema dinâmico de oportunidades e desafios.
https://valor.globo.com/financas/coluna – 03/09/2024.
Por Felipe Souto*
O conceito de open finance tem evoluído rapidamente no Brasil, moldando o futuro do mercado financeiro e criando um ecossistema dinâmico de oportunidades e desafios. A iniciativa de open finance, que se baseia na integração de diferentes serviços financeiros através de interfaces de programação de aplicativos (APIs), promete revolucionar a maneira como consumidores e empresas interagem com serviços financeiros. Além disso, a ideia de um mercado de capitais aberto (open capital market) está emergindo como uma extensão natural desse movimento, trazendo a mesma filosofia de transparência e integração para o mercado de capitais.
Esta evolução natural encontra-se inserida dentro de um movimento mais amplo conhecido como “Movimento Open”, que engloba princípios de abertura, transparência e colaboração, permitindo que os usuários (aqui entendidos como participantes diretos ou indiretos de um determinado mercado) possam atuar de maneira mais conectada.
Isso não só melhora a experiência do consumidor, proporcionando mais escolhas e personalização, mas também fomenta a inovação e a competição no mercado, ao permitir que novos players entrem e ofereçam soluções inovadoras. Em essência, o Movimento Open visa democratizar o acesso à tecnologia e à informação, promovendo um ambiente mais colaborativo e inclusivo e, por que não, cada vez mais distribuído.
De acordo com o último relatório “Open Finance Brazil Maturity Index 2023” elaborado pela Capgemini, o Brasil tem se destacado como um líder global na implementação do open finance, com destaque para o uso do “embedded finance” por empresas cujo “core business” não necessariamente é o financeiro, ao menos ainda não o são (ou não eram), já que “um dia, toda empresa será uma fintech”.
No âmbito do mercado de capitais, dentro da competência da Comissão de Valores Mobiliários, novas regulações como a RCVM 60, RCVM 161, RCVM 160, RCVM 175 e RCVM 88 estão remodelando o mercado, proporcionando uma estrutura mais flexível e moderna para operações financeiras e de capitais.
Some-se a isso a agenda de inovação do Banco Central do Brasil (o melhor do mundo), que conta com o sucesso e avanço do sistema de pagamentos instantâneos, o Pix, e o desenvolvimento e lançamento do Drex (real digital), nos colocando na vanguarda deste movimento.
A convergência de IA e Web3 também está impulsionando esta transformação. Com a adoção crescente de tecnologias descentralizadas, as possibilidades são infinitas, desde a criação de contratos inteligentes até a implementação de finanças descentralizadas (DeFi). A inteligência artificial, por sua vez, está sendo utilizada para melhorar a eficiência e a precisão das operações, desde a automação de processos até a análise preditiva de mercados.
Não podemos deixar de destacar também como a tecnologia blockchain está no centro da transformação do mercado financeiro e de capitais, oferecendo transações seguras, transparentes e imutáveis. Esta tecnologia descentralizada tem o potencial de revolucionar a forma como os mercados funcionam, eliminando intermediários, reduzindo custos operacionais e de transação. As transações são validadas por uma rede de computadores, garantindo segurança e imutabilidade dos dados. Isso resulta em maior eficiência, menor risco de fraudes e maior transparência para todas as partes envolvidas.
Em termos práticos, podemos dizer que a blockchain é essencialmente um livro-razão distribuído que registra todas as transações de forma descentralizada. Cada bloco de transações é vinculado ao bloco anterior, formando uma cadeia (daí o nome “blockchain”). Esta estrutura garante que, uma vez registrada, uma transação não pode ser alterada sem alterar todos os blocos subsequentes, o que é praticamente impossível pelas probabilidades.
No mercado de capitais, o blockchain está sendo utilizado para emissão, negociação, compensação e liquidação de ativos. Exemplos incluem a “tokenização” de ativos, em que ativos físicos ou financeiros são convertidos em “tokens” digitais que podem ser negociados em plataformas blockchain.
A integração e a criação de um mercado de capitais digital são cruciais para que isso se torne realidade. Para aproveitar todo o potencial e as oportunidades proporcionadas pelo open finance e open capital market que está por vir, os movimentos estratégicos precisam ser feitos agora com a inclusão das tecnologias emergentes como blockchain e inteligência artificial aos seus processos. O caminho não é fácil, mas podemos construir juntos este futuro.
*Felipe Souto é CEO e fundador da Bloxs
E-mail: felipe.souto@bloxs.com.br
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