https://valor.globo.com/financas/noticia – 05/07/2024.
Por Álvaro Campos, Valor — São Paulo.
Para Fábio Zveibil, vice-presidente de empréstimos com garantia da Creditas, mais do que gerar uma redução de taxa para o tomador do crédito, a medida pode colocar no mercado consumidores que hoje ficam de fora.
A retomada extrajudicial de veículos, aprovada no bojo do Marco de Garantias, no fim do ano passado, está começando agora a ganhar corpo, com governos estaduais regulamentando a relação com os cartórios. Se os fluxos de retomada funcionarem bem, a medida pode reduzir drasticamente os custos e, assim, ampliar o mercado para novos perfis de consumidores.
Para Fábio Zveibil, vice-presidente de empréstimos com garantia da Creditas, mais do que gerar uma redução de taxa para o tomador do crédito, a medida pode colocar no mercado consumidores que hoje ficam de fora. Ele aponta que o custo operacional da retomada judicial é basicamente o mesmo para um carro de R$ 20 mil ou um de R$ 200 mil. “Se a retomada custa R$ 5 mil – um valor hipotético – não compensa fazer o financiamento para um carro de R$ 20 mil. Mas digamos que ela caia para R$ 1 mil, então esse financiamento para um carro de R$ 20 mil já se torna viável”, exemplifica. Hoje, entre o início do processo de retomada e a revenda daquele veículo, a companhia gasta quase seis meses.
A Creditas terminou o primeiro trimestre com uma carteira de R$ 5,581 bilhões. Ele não detalha a divisão por produtos. O crédito com garantia de automóvel (car equity) é sua linha mais conhecida, mas ela faz também o financiamento automotivo clássico, crédito com garantia de imóvel (home equity) e consignado privado. “A carteira é mais ou menos dividida nesses três pilares (carro, imóvel e consignado), nenhum deles se distancia muito dos outros em termos de tamanho.”
No car equity, o prazo médio é de 42 meses e o tíquete, de R$ 23 mil. Para muitos clientes, a Creditas não solicita nem vistoria do veículo, já que pode pegar dados do próprio financiamento automotivo, do seguro e de outras fontes. O tempo para a liberação do crédito fica em torno de uma semana, mas com a modernização tecnológica, esse prazo depende mais do cliente do que da companhia. Se a documentação do veículo estiver toda correta, a liberação do dinheiro ocorre em poucas horas.
Zveibil não revela o índice de inadimplência no car equity, apontando que o dado divulgado pelo Banco Central, no financiamento automotivo, geralmente é mais baixo que a média do mercado, já que inclui veículos novos (a inadimplência é menor do que nos usados) e bancos de montadoras (que conseguem oferecer juros mais baixos e, assim, também têm uma inadimplência menor).
“A gente trabalha com um perfil de cliente um pouco mais arriscado, fazemos até para negativados, então nossa inadimplência pode ser um pouco maior, mas o que importa é a margem”, aponta.
Nesse sentido, o perfil da garantia é bastante importante. A Creditas não faz o car equity em cidades nas quais a retomada do veículo é muito complicada. “Para o oficial de Justiça achar a pickup de um produtor rural no interior da Amazônia pode ser muito complicado.” Também é preciso considerar a liquidez. Ela não faz, por exemplo, o empréstimo com garantia em uma Ferrari. “Tem marcas que a gente não aceita, por questão de liquidez mesmo”.
Ainda assim, ele explica que muitas vezes o cliente toma um car equity para quitar outras dívidas, ou mesmo para investir, e consegue um juro bem menor que em outras linhas mais tradicionais, de empréstimo pessoal. “Essa operação está melhorando a vida financeira dele, então a gente tem de analisar o risco do cliente neste contexto.”
O Marco de Garantias também pode ter impacto no home equity, já que a nova lei permite que um mesmo imóvel seja usado como garantia em mais de uma operação. Porém, novamente o mercado ainda espera algumas definições. Uma delas é no fluxo de ressarcimento aos credores no caso de execução da garantia. “Se a gente retoma a casa e ela é vendida, mas está alienada para mais de um banco, quem recebe primeiro? Se o valor não cobre a dívida, como é feita a divisão?”, explica Tatiana Monseff, diretora de estratégia de home equity da Creditas, acrescentando que o assunto tem sido discutido no âmbito da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
O relatório mais recente da Abecip, com dados de abril, mostra que o estoque de home equity chegou a R$ 21,0 bilhões, com 125 mil contratos.
Na Creditas, para apartamentos as vistorias são sempre remotas, sendo que o preço por metro quadrado é baseado em levantamentos de consultorias especializadas. Já para casas de rua, é preciso uma avaliação presencial. Cerca de 50% da carteira está no Estado de São Paulo, seguida por Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Neste caso, a liquidez é ainda mais importante, já que a maioria dos imóveis é vendida em leilão, com compradores especializados, e para muitas localidades não há demanda para essa revenda.
“Acho que o home equity ainda é subpenetrado, mas o mercado vem crescendo bastante, em originação e tamanho de carteira, então não é simplesmente um ‘rouba-monte’”, comenta Monseff. Este segmento tende a ser mais disputado do que o car equity, já que muitos bancos que fazem financiamento imobiliário, quando veem que o cliente se aproxima de quitar o imóvel, passam a oferecer o home equity. No caso do car equity, como o tíquete é bem menor e o custo de retomada é caro, os grandes bancos acabam não fazendo tanto, preferindo ofertar ao cliente empréstimos pessoais.
Fábio Zveibil, vice-presidente de empréstimos com garantia da Creditas — Foto: Divulgação

