https://valor.globo.com/financas – 04/01/2022.
Por Alex Vollbrechthausen e João Chacha.
Por trás das transformações aceleradas em curso no mercado há também convites para profissionais se reinventarem.
Ao escrever sobre as grandes revoluções na ciência, lá por volta de 1962, o filósofo Thomas Kuhn contribuiu para popularizar a expressão “mudança de paradigma”. O trabalho de Kuhn deixou lições valiosas para compreendermos o avanço da humanidade. Ao analisar a estrutura das revoluções científicas, percebeu que as notáveis descobertas de Copérnico, Newton, Lavoisier e Einstein, por exemplo, foram frutos de teorias que eram incompatíveis com aquelas então dominantes.
No burburinho a respeito da competição saudável entre fintechs e empresas financeiras tradicionais, a constatação de que ocorreu uma mudança de paradigma é vigorosa.
Mas por trás das transformações aceleradas em curso existem também convites para se reinventar. É o caso das oportunidades de trabalho em bancos digitais e plataformas de pagamentos, cuja oferta cresceu 466% em seis meses. E, é claro, executivos oriundos de bancos comerciais e bancos de investimento, com sólida formação e carreira, mas dispostos a uma mudança de paradigma, têm sido incorporados às fintechs em evolução ou já consolidadas.
O entrelaçamento irreversível da tecnologia com o universo das finanças levou muitos profissionais a deixarem a zona de conforto e fazer uma imersão renovadora no universo das fintechs. Na mudança de paradigma, entretanto, nem toda bagagem acumulada precisa ser lançada fora. Permanecem ativos valiosos a base de conhecimento e a experiência em investimentos, crédito, serviços bancários, meios de pagamentos, entre outras áreas. Como vantagem competitiva, estes gestores chegam familiarizados com os desafios de geração de valor, ganho de escala, controle da estrutura de custos, retorno dos investimentos, rentabilização de clientes etc.
Por outro lado, a entrada no ambiente fintech requer aquisições de novos conhecimentos, por exemplo, API (Application Programming Interface), soluções em nuvem, inteligência artificial, entre outros conceitos e técnicas. O desafio de aprender – ainda mais – sobre tecnologia é um imperativo.
Em suma, além da imersão em tecnologia, há um triplo desafio para os executivos com larga experiência no modelo bancário tradicional: assimilar um modelo organizacional altamente focado, processos de inovação baseados em modelos escaláveis e formas de atuação em gargalos e em necessidades não atendidas (de pessoas jurídicas e físicas).
Participar da criação e desenvolvimento de fintechs pode provocar um choque inicial para alguns. Sem as amarras das estruturas tradicionais, a sensação inicial é de que você será uma espécie de herói de seriado, com um clipe e uma borracha nas mãos, e precisando fazer uma sofisticada máquina de combate.
O conforto é saber que, em pouco tempo, executivos com sólida formação e experiência de décadas no sistema bancário tradicional vão participar de equipes jovens, todos na faixa dos 20 anos, num processo geracional de aprendizagem mútua e integração.
Outra vantagem para o gestor é também deixar de ser apenas um crachá e fazer a diferença, não como clichê, mas de fato. Um caso envolvendo um executivo do FitBank é exemplar. Depois de uma reunião de negócios com dirigentes de sua antiga empresa, encontrou um ex-colega que perguntou se ele estava de volta. A resposta, esboçada com um largo sorriso, foi: “Estive aqui não como funcionário, mas visitando um bom cliente”.
A realidade, hoje, em um ciclo aparentemente inesgotável de transformação, causa trepidações e o mercado financeiro projeta cenários. Qual o futuro da equação fintechs e instituições tradicionais: competição, parceria, complementaridade, conflito? Muitas indagações têm sido levantadas, ainda sem resposta definitiva. As inovações são movidas pelas evidências de que nada será como antes. A tecnologia, propulsora de benefícios econômicos e sociais, em larga escala, desponta como um futuro a ser apropriado antes que seja tarde demais.
Alex Vollbrechthausen é sócio-investidor e presidente do conselho do FitBank
João Chacha é sócio-investidor, membro do conselho de administração e do comitê de gestão do FitBank
E-mail contato@fitbank.com.br
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