valor.globo.com – 11/11/2019.
Por Deloitte.
Um bom plano sucessório pode ajudar a alinhar objetivos imediatos e de longo prazo; já no Brasil, o apego à propriedade do negócio é menor, aponta estudo.
Boa parte das empresas familiares querem manter os negócios dentro da família, passando o controle para a próxima geração. Para alcançar esse objetivo, o estudo da Deloitte “Global Family Business Survey 2019” aponta que elas devem enfrentar o desafio de encontrar meios de conciliar a perpetuidade dos negócios com as demandas mais imediatas.
As empresas familiares representam mais de 60% dos negócios existentes no mundo, sendo um segmento de grande relevância para os mais diferentes mercados. No entanto, pesquisas apontam que cerca de 30% delas não sobrevivem à terceira geração.
A pesquisa anual, que está na quinta edição, foi realizada em 58 países e ouviu 791 executivos, incluindo 56 brasileiros, de organizações com faturamento anual acima de 10 milhões de libras (cerca de R$ 43 milhões). A maioria desses empreendimentos encontra-se sob comando da segunda geração.
Para investigar como essas empresas equilibram sua visão de longo prazo (de 10 a 20 anos) com as demandas de curto prazo (os próximos 12 meses), foram abordadas questões relativas a estrutura acionária, governança, estratégia e plano de sucessão. As principais conclusões apontam que os objetivos de longo prazo não estão refletidos nas ações mais imediatas.
Globalmente, 68% das empresas querem que os negócios permaneçam com suas famílias. “No entanto, apesar dessa preocupação, elas focam as demandas de curto prazo em detrimento das questões mais estratégicas, de longo prazo”, diz Ronaldo Fragoso, líder de Risco Regulatório e Private Companies da Deloitte. “ Há sinais de que muitas empresas familiares estão adiando certas ações e focando mais o urgente do que o importante”.
A prioridade para as empresas nos próximos meses, por exemplo, está no retorno financeiro e lucratividade. Além disso, muitas empresas têm estratégias desenhadas apenas para os próximos 2 a 5 anos.
Já quando questionados sobre a visão de longo prazo, os respondentes apontaram como características importantes para a sustentabilidade dos negócios a agilidade na adaptação ao ecossistema, a capacidade de inovação e as tomadas de decisões rápidas e flexíveis. Porém, existe o desafio de lidar com possíveis conflitos das novas gerações frente às mais antigas, que podem relutar em aceitar mudanças na estrutura ou modelo de negócios.
Diante desse cenário, uma das conclusões da pesquisa é que um plano sucessório robusto pode ajudar a alinhar os objetivos de curto e longo prazo das organizações. No entanto, embora essa questão esteja no horizonte de muitas empresas, o levantamento indica que boa parte delas não possui um planejamento formal e concreto nessa direção. As visões da empresa e dos integrantes das próprias famílias sobre o futuro dos negócios também não se encontram totalmente alinhadas. Essas situações podem gerar desentendimentos e dificuldades para a transferência do negócio para as gerações seguintes, alerta o estudo.
No Brasil, há menos apego à empresa
“No Brasil, os empresários aparecem menos apegados à empresa. Há uma tendência a trocar o controle da organização pelo sucesso financeiro no longo prazo. Essa é uma novidade no estudo”, afirma Ricardo Teixeira, sócio da área de Risk Advisory da Deloitte.
A profissionalização das estruturas de governança corporativa é outra prioridade para os planos de longo prazo.
Esses posicionamentos estão possivelmente relacionados à crise econômica e ao debate em torno da corrupção que ganhou destaque no País nos últimos anos.
Para os executivos brasileiros que responderam à pesquisa, saber solucionar problemas e a disposição para continuar aprendendo aparecem como as principais habilidades necessárias para garantir a sobrevivência da empresa, embora muitas das organizações ainda não tenham um processo formal de entendimento do mercado no longo prazo.