Executivos precisam aprender a pedir ajuda.
Por Vicky Bloch
www.valor.com.br – 22/11/2018
Talvez por ser formada em psicologia e ter atuado profissionalmente a vida toda com recursos humanos, nunca tive receio de pedir ajuda. Gosto de ouvir a opinião de pessoas que respeito quando estou desenvolvendo algum trabalho novo e acredito que a contribuição alheia sempre me enriquece –seja para comprovar minhas ideias, seja para aprimorar o que estava sendo feito ou, ainda, para me fazer recomeçar.
Pode parecer algo muito natural, mas na verdade a maior parte das pessoas não gosta de pedir ajuda. Especialmente quando falamos de profissionais que já ascenderam a um nível mais alto de carreira em setores mais tradicionais. Para muitos, pedir ajuda é sinônimo de demonstrar fraqueza ou falta de capacidade.
Já passou da hora de quebrarmos esse tipo de paradigma. E sabe o que é ainda mais interessante? Tem muita gente disposta a nos ajudar. Para grandes especialistas globais no tema liderança, é praticamente impossível se desenvolver nas organizações modernas sem contar com a ajuda do outro.
De fato, empresas de tecnologia, startups e grandes consultorias parecem estar bem à frente nesse quesito. Seja pelos formatos de times colaborativos, pelos novos modelos de gestão de projetos ou pelas estruturas pouco hierárquicas que muitas organizações já adotam.
A psicóloga americana Heidi Grant, diretora de pesquisa e desenvolvimento do Instituto de NeuroLiderança (NeuroLeadership Institute), escreveu um artigo sobre esse tema para a revista “Harvard Business Review” que achei muito interessante.
Ela aborda no texto justamente o “como podemos pedir ajuda” – e sem que isso seja uma imposição. O primeiro passo, argumenta Heidi, é justamente parar com essa relutância em buscar ajuda. Depois, é importante prestar atenção na forma com que fazemos a abordagem — um “approach” intuitivo malfeito pode fazer com que a pessoa de fato não tenha muita vontade de colaborar. Em terceiro, você deve aprender sobre as sugestões sutis que motivarão as pessoas a apoiá-lo e como fazer as entregas corretamente.
Heidi sugere que o segredo é fazer com que as pessoas sintam que estão ajudando porque desejam, e não por obrigação, e que elas estão no controle da decisão. Aqueles que irão ajudá-lo devem, ainda, ter clareza sobre qual é o problema e entender por que você quer ajuda. Outro aspecto importante, segundo a especialista americana, é que a pessoa saiba que tem essa responsabilidade, que não será dividida com outra pessoa (um erro clássico, segundo ela, são os pedidos de ajuda em grupos de e-mail, em que normalmente todos esperam que algum outro responda).
A última orientação parece óbvia, mas definitivamente não é: aquela pessoa para a qual você irá pedir ajuda precisa estar apta a providenciar aquilo que precisa. Portanto, transmita todos os detalhes para garantir que falou com a pessoa certa e peça que ela seja explícita caso não possa ajudá-lo.
“A sua performance, desenvolvimento e progressão de carreira dependem mais do que nunca de sua busca por conselhos, referências e recursos. De fato, estima-se que nada menos do que 75% a 90% da ajuda que os colegas de trabalho dão uns aos outros se dão em resposta a abordagens mais diretas”, diz a pesquisadora.
A verdade é que novos olhares e contribuições ajudam a enriquecer diagnósticos e o trabalho em si. Nem todas as empresas possuem uma cultura colaborativa como Google, Facebook e startups em geral. Existem ainda indústrias muito tradicionais que carregam o modelo antigo hierárquico em seus modelos de gestão, e é principalmente aos executivos destas organizações a que me refiro.
Experimentem agir de forma mais colaborativa com suas equipes, peçam ajuda, aprendam e enriqueçam com a contribuição muito rica que outros ao seu redor são capazes de lhe dar. Ajude a difundir essa cultura na empresa como cooperação, tanto para o público interno como para seus demais stakeholders. Você pode pedir ajuda sem se diminuir, sem se tornar um pedinte, mas sim criar um ambiente onde a pessoa que tem uma determinada competência ou característica se perceba agregadora de valor. Depois me conte o resultado.
Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados