Para planejar o futuro financeiro com sucesso não basta uma planilha. É preciso auto-conhecimento e capacidade de lidar com o presente e o futuro de forma tranquila.
O líder espiritual Dalai Lama disse certa vez: “Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de forma que acabam por não viver nem no presente nem no futuro. E vivem como se nunca fossem morrer… e morrem como se nunca tivessem vivido.”
Um grande dilema quando pensamos na questão do bolso é o tempo. Temos que lidar com o tempo presente e com o tempo futuro. Se nos concentramos demais no presente e usamos todos os recursos que temos, deixamos de construir um futuro próspero. Se pensamos demais no futuro, deixamos de aproveitar a vida.
Dalai Lama parece querer nos dizer que preocupar-se com o futuro é tolice. Mas não se engane, não é essa a mensagem. Como mestre espiritual do budismo tibetano, Dalai Lama reconhece como virtude o caminho do meio. Seu relato é na verdade uma observação da sociedade moderna: há uma ganância por dinheiro com puros objetivos materiais e de acumulação, sem o objetivo de uma vida tranquila.
Esse dilema entre presente e futuro não precisa existir. É possível haver equilíbrio entre o que vivemos hoje e o que pretendemos viver no futuro. Mas para isso é necessário fazer com que o planejamento financeiro não seja um sacrifício, algo doloroso. Uma pessoa não deve passar fome, frio e penúria para maximizar seu patrimônio no futuro. Mas como?
O grande segredo é fazer do Planejamento Financeiro um ato presente. Ao deixar de comprar uma roupa de marca para economizar, por exemplo, é possível ver esse mesmo ato de duas maneiras:
1) Estou diminuindo minha satisfação hoje para ter mais no futuro.
2) Estou tomando uma decisão responsável, que reforça minha autoestima, minha confiança no futuro e mostra que sou uma pessoa capaz de gerar benefícios a mim e a minha família. Nem por isso reduzirei meu prazer hoje, pois posso encontrar outras formas de satisfação que não dependam de comprar essa roupa de marca.
Cada ato de Planejamento Financeiro pode ser visto como algo prazeroso: separar um percentual da renda para um investimento, acompanhar a valorização de uma aplicação, envolver a família e partilhar conhecimento, substituir coisas boas e caras por coisas também boas, mas menos caras.
Como nos diz Eckart Tolle, mestre espiritual autor do livro “O poder do agora”: “A maioria das pessoas trata o momento presente como um obstáculo que precisam superar. Mas já que o presente momento é a própria vida, isso acaba sendo um jeito louco de viver.”
Não faça do planejamento financeiro algo ruim. Curta no momento presente cada ação que você toma, e lembre-se que essa decisão é fruto de um senso de responsabilidade e respeito à vida. Assim o planejamento torna-se um prazer, e não um sacrifício.
Esse deve ser um dos princípios do Planejamento Financeiro, que aqui demarcamos como primeiro mandamento: “Fazer do planejamento um ato presente, percebendo que cada decisão financeira gera satisfação, reforça a autoestima e demonstra responsabilidade com o futuro.”
2º MANDAMENTO DO PLANEJAMENTO FINANCEIRO – 10h53 | 13-12-2013 – InfoMoney.
O 1º mandamento do planejamento financeiro, visto no tópico anterior, mostrou que é possível fazer do planejamento um ato presente, ou seja, ter prazer com cada decisão financeira. O 2º mandamento é complementar ao primeiro: “Redescobrir e cultivar os valores reais e simples da vida”. Quando vemos que é possível ter prazer e sentir-se feliz com coisas simples e muitas vezes gratuitas, fica mais fácil tomar decisões financeiras duras, como resistir ao consumo, guardar dinheiro para daqui 10 anos, investir em educação.
Em nossa jornada pela vida, milhares de coisas se oferecerão como atalhos à felicidade e prazer. Muitas dessas coisas causam grande prejuízo ao bolso: roupas de grifes, carros, restaurantes, festas, futilidades em geral, etc.
De fato, consumir é muito bom. Necessário até, tanto para a subsistência do corpo quanto para o lazer. Mas como saber a medida certa?
A medida certa depende de cada pessoa, sobretudo da renda disponível de cada um. O mais importante, no entanto, é notar que seja qual for sua renda, há coisas que você pode fazer para diminuir o impacto dos gastos sobre o seu bolso, sem que isso afete sua satisfação e autoestima.
Sigmun Freud já dizia: “É impossível escapar à impressão de que as pessoas normalmente usam falsos padrões de medição – que buscam poder, sucesso e riqueza para si e os admiram em outros – e que eles subestimam o que é de verdadeiro valor da vida.”
Os maiores pensadores da história já afirmaram o mesmo: damos excessivo valor ao que o dinheiro proporciona e nos esquecemos de aproveitar coisas simples, que não dependem de dinheiro algum. Veja Platão: “A maior riqueza é viver contente com pouco”. E Schopenhauer: “A nossa felicidade depende mais do que temos nas nossas cabeças, do que nos nossos bolsos.”
Tome uns instantes do seu dia e pergunte-se: meu estilo de vida é condizente com minha situação financeira? Posso substituir prazeres que custam caro por outros que me dão o mesmo nível de satisfação e não custam nada?
Uma sugestão que damos em palestras e a pessoas que buscam orientação financeira é organizar o “Dia do gasto zero”. O nome “zero” é simbólico, pois é muito difícil gastar absolutamente nada. Mas o importante é exercitar a capacidade de ter prazeres gastando o mínimo, ou quase nada. Substitua o cinema por uma caminhada no parque com uma pessoa querida, o restaurante por visitar um familiar que há tempos não vê, substitua a compra de presentes por fazer um favor sincero a alguém que precise.
E quando tiver realizado cada um desses atos, perceba a importância disso: você acaba de reforçar laços afetivos verdadeiros sem gastar um tostão. Quanto mais fazemos isso, mais percebemos que não é difícil se distanciar da compulsão pelo consumo, basta tentar.
Esse é o 2º mandamento do Planejamento Financeiro: “Redescobrir e cultivar os valores reais e simples da vida”. Quanto mais se tenta, mais fácil fica. O bolso agradece, e a alma também.