DO “FINANCIAL TIMES”
Tradução de PAULO MIGLIACCI – 08/08/2013–03h00
A infraestrutura é a próxima grande tendência de investimento. A lógica assim sugere.
A demanda das grandes instituições, desesperadas por uma fonte de retornos quando nem os títulos e nem as ações merecem confiança, é intensa.
Enquanto isso, a disponibilidade de oportunidades de investimento –da parte de governos e outros– cresce cada vez mais. Esses agentes têm muitas necessidades, e o financiamento bancário, sua fonte tradicional de recursos, está em queda.
O problema é que a lógica aponta também para uma corrida de compra de ativos que os investidores institucionais não compreendem. Isso pode resultar em uma bolha.
Os “ativos reais” –de imóveis a projetos de infraestrutura, passando por negócios florestais– estão atraindo interesse desde que instituições como o fundo de investimento da Universidade Yale começaram a procurá-los, mais de duas décadas atrás. O interesse se intensificou depois da crise financeira.
De acordo com a mais recente pesquisa entre administradores mundiais de fundos de pensão com benefícios definidos, conduzida pela Create Research, uma consultoria britânica, 55% dos pesquisados expressaram interesse em imóveis e mais de 40% em infraestrutura.
Alguns fundos escandinavos e canadenses já alocam mais de 25% de seu capital a ativos reais. Um administrador disse que os ativos reais “oferecem proteção contra as variações do clima”.
O apelo da infraestrutura (ou dos imóveis comerciais) é que o segmento oferece retornos superiores aos dos títulos. Os rendimentos diretos de projetos de infraestrutura com boa classificação de crédito podem atingir os 7% a 8%.
MENOS RISCO
A infraestrutura também parece oferecer aquilo que os selecionadores de ativos para investimentos mais procuram: retornos não correlatos.
Adicionar um novo ativo não correlato a uma carteira de investimento pode causar redução de risco sem reduzir a expectativa de retornos.
De acordo com uma pesquisa de Martin Cremers, da Universidade Notre Dame, publicada pelo Deutsche Asset & Wealth Management Global Financial Institute, três categorias de “ativos reais” –terras aráveis e florestas, infraestrutura e imóveis comerciais– exibiam essas propriedades mágicas, com base no acompanhamento de seu desempenho nos Estados Unidos entre 1978 e 2012.
Mas será possível confiar em que as passadas correlações (ou falta delas) persistirão no futuro?
Não persistirão. Cremers é claro ao afirmar que não existem ainda dados suficientes para realizar previsões claras. Na infraestrutura, só existem bons dados para oleodutos e gasodutos, um segmento que vem passando por um boom nos últimos anos.
E o comportamento de classes de ativos muda quando a natureza de seus investidores muda.
Quando apenas alguns poucos investidores colocavam dinheiro nos negócios florestais, é provável que identificassem os melhores e mais lucrativos ativos. Se maior número de pessoas entrar no jogo, o risco é de que obtenham preços piores, e que encontrem em oferta apenas ativos piores.
As constatações do estudo podem bem refletir apenas a vantagem dos ingressantes iniciais em um segmento.
Além disso, o influxo de investidores a uma classe de ativos pode alterar as correlações históricas. Foi isso que aconteceu nos mercados futuros de commodities e nos mercados de ações emergentes. Ambos foram populares junto às instituições, 10 anos atrás, por suas propriedades de diversificação, mas caíram em companhia do mercado de ações dos países desenvolvidos, em 2008.
E quanto ao lado da oferta? Os governos gostam de projetos de infraestrutura como uma forma viável de estímulo à economia. Estradas e pontes precisam notoriamente de reformas, nos Estados Unidos. E os mercados emergentes atingiram uma nova fase de desenvolvimento.
Nas últimas semanas, a Ashmore Investments apontou que a Costa do Marfim havia anunciado planos para investir em portos, ferrovias e usinas de energia, usando US$ 10 bilhões em crédito subsidiado pela China; o México lançou um Programa Nacional de Infraestrutura (PNI) no valor de US$ 312 bilhões; a China anunciou novas iniciativas para atualizar sua infraestrutura de energia e tecnologia da informação; e as Filipinas estão estudando legislação para encorajar parcerias entre o setor público e o privado e dobrar o investimento em infraestrutura ater 2015.
E há o buraco deixado pelos bancos em seus esforços de redução do endividamento, pós-crise. Com o recuo constante de seus empréstimos, surge a oportunidade para as instituições de financiar projetos por meio de títulos de dívida.
A Standard & Poor’s projeta que “bancos paralelos” (fundos operando fora dos bancos) devam oferecer US$ 25 bilhões em empréstimos de financiamento a projetos na Europa este ano, ante zero dois anos atrás.
Em princípio, isso poderia ser um problema. Essas instituições não têm acesso a recursos de seus bancos centrais, e lhes falta transparência.
Na prática, Mike Wilkins, da SAP, sugere que a questão ainda não é séria.
As instituições estão preocupadas quanto ao risco de crédito, e aceitam apenas os projetos mais seguros. Os grandes fundos de pensão não se preocupam com a falta de liquidez, porque operam com horizontes de longo prazo.
Mas continua a existir risco. Investir em infraestrutura é, em última análise, um investimento em um negócio operacional. Se a gestão for ineficiente, ou se a economia se desacelerar e ninguém viajar de carro pelas estradas pagas, esse tipo de investimento pode decepcionar. E qualquer coisa que porte risco de construção –dada a notória imprevisibilidade dos grandes projetos de infraestrutura– oferece desafios com os quais muitas das grandes instituições não estão familiarizadas.
Mesmo assim, a oportunidade é evidente. Existe necessidade premente de infraestrutura melhor nos países em desenvolvimento, e de maior segurança para as aposentadorias nos países desenvolvidos. As duas coisas podem terminar unidas. Mas todos os envolvidos deveriam caminhar com cautela.